O governador do Piauí, Rafael Fonteles, encontra-se em nova missão internacional, desta vez na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. A relação do governo com instituições de ensino no mundo nos parece uma iniciativa importante e necessária, mas que não tem valor em si, exige justificação. De modo que é importante responder, objetivamente, perguntas como: Quais os propósitos estratégicos da missão? Por que, na missão, não há a participação de pesquisadores(as) das Instituições de Ensino Superior (IES) do Piauí vinculados(as) às temáticas em pauta? Qual a relação dos propósitos da missão com a política de gestão do Piauí e especialmente com a educação superior pública no Estado?
Importante também considerar as referências ético-políticas que os entes visitados e ouvidos na missão possam aportar aos objetivos do governo. Neste sentido, é imperativo ressaltar as denúncias no modo de financiamento educacional adotado por Harvard. A Rede Social de Justiça e Direitos Humanos publicou relatório informando que a Universidade norte-americana utiliza o seu fundo patrimonial para realizar operações agrícolas em diversos países, incluindo o Brasil. Harvard também financiou empresas subsidiárias com atuação no agronegócio nos estados da Bahia e do Piauí para a aquisição de cerca de 400 mil hectares no cerrado brasileiro, utilizando-se de mecanismos de burla das leis brasileiras.
Esse tipo de investimento acirra a patrimonialização da terra e dos recursos naturais, pois, ao transformá-los em ativo no mercado de terras agricultáveis, que são cada vez mais escassas, devido ao processo de destruição socioambiental patrocinado por países como os Estados Unidos, desencadeia um conjunto de questões sociais, parte delas decisivas para a crise climática e ambiental existente no planeta. Além disso, contribui para o acirramento de conflitos fundiários e a vulnerabilização e expulsão de famílias e comunidades tradicionais atingidas.
Na agenda do governador Rafael Fonteles foi anunciado o encontro com o cientista político Steven Levitsky, estudioso das relações democráticas e suas estratégias no aperfeiçoamento e(ou) limitação da incidência das forças políticas e da sociedade. Importante! Pois passados 8 meses de gestão, não há negociação com as categorias de servidores públicos, especialmente as da educação básica e superior, sobre as suas demandas e medidas de curto, médio e longo prazo que apontem para a valorização do serviço e de servidores públicos do Piauí, como parte da expertise e da inteligência necessárias à superação dos problemas socioeconômicos históricos. Atualmente professores(as) da única Instituição de Ensino Superior (IES) pública do Estado, a UESPI, sob a gestão direta do governador Rafael Fonteles, denunciam o desprezo do governo com os salários corroídos pela metade ao longo de 10 anos e sem nenhuma resposta nestes 8 meses.
O governo do Piauí deve instituir processos de escuta e de consultoria junto a cientistas e pesquisadores das IES do Estado, muitos dos quais se encontram nos quadros da Uespi e se destacam mundialmente. Deve buscar inspirações em bons exemplos que permitam a valorização e alavancagem do potencial agrícola do Estado para produção de alimentos saudáveis para os piauienses, brasileiros e a população mundial, produzindo também oportunidades de desenvolvimento econômico, em uma lógica alternativa à exclusão, ao autoritarismo de racionalidade única e à subserviência administrativa e de gestão marcantes na história de nosso Estado.
Deve valorizar a Universidade Estadual do Piauí, não somente em sua infraestrutura, que atualmente é deplorável, situação ante a qual Harvard pode ser um bom exemplo a ser seguido; mas a UESPI também carece urgentemente de investimentos financeiros em pessoal docente, administrativo e em assistência estudantil, em condições de trabalho, em pesquisas e programas de pós-graduação em extensão no Estado e no país, em intercâmbios com outras instituições e comunidades de docentes e investigadores. Esperamos que os frutos da missão governamental se convertam em melhores dias para o Piauí, para a UESPI e para a educação do Estado.