Dia da Consciência Negra: políticas afirmativas na UESPI promovem acesso, mas não viabilizam a permanência

No Piauí, a UESPI (Universidade Estadual do Piauí) foi a primeira instituição do Estado a aderir ao sistema de cotas em julho de 2008, por meio de uma Resolução própria. A princípio, destinando 30% das vagas para estudantes negros e negras ou oriundos da escola pública.

Em 2021, com a Lei N° 7.455, a Universidade teve que ampliar a cota de negros e negras, comunidades quilombolas e indígenas, de 30 para 50%.

Esses foram avanços importantes, todavia, que não podem caminhar sozinhos. Como uma política de reparação, as cotas universitárias unicamente não dão conta de resolver o racismo estrutural e suas consequências na vida do povo preto. “É preciso politicas de assistência estudantil para se manter esses estudantes na universidade, com apoio para aquisição de material, alimentação, e posteriormente, inserção  no mercado  de trabalho”, destaca o professor e pesquisador José Bispo.

Para o Professor, as cotas para negros/as são, na verdade, parte de um contexto estrutural mais amplo e se configuram como uma possibilidade da entrada de pessoas negras no ensino superior e, consequentemente, de melhores condições para ingresso no mercado  de trabalho.

“Mas essas políticas precisam ser ampliadas para outros segmentos, como cotas no mercado de trabalho, no serviço público e ainda repensar a acesso ao ensino médio. Nós temos uma dificuldade enorme de negros e negras que terminem o ensino médio para iniciar o ensino superior”, afirma.

Além das políticas de permanência, o professor José Bispo acredita que há muito que se debater acerca da atual política de ações afirmativas, uma que o que temos hoje sequer corresponde ao que determina a lei.

“A lei diz que tem que ser proporcional com a população de cada região. Ou seja, aqui no Piauí a população de pretos e pardos é de 80% e as cotas são de apenas 50%”, afirma.