Universidade Estadual do Piauí (UESPI) enfrenta um grande retrocesso no que diz respeito à concessão de bolsas de pesquisa para estudantes da iniciação científica . O motivo? Pelo que se sabe informalmente, a administração superior da instituição perdeu o prazo para inscrição no último edital público para a renovação e concessão de novas bolsas de pesquisa. Como resultado, a UESPI ficou de fora do edital e perdeu as 84 bolsas de pesquisa que recebia regularmente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de não poder pleitear novas bolsas nos próximos dois anos.
O que aconteceu?
Pelas informações apuradas e que podem ser ou não confirmadas pela Reitoria, o edital lançado permitia a renovação das bolsas já em vigor e a inclusão de novas instituições no processo de concessão. Ao que tudo indica, a UESPI, que contava com 84 bolsas do CNPq, não se inscreveu no prazo determinado. Esse erro administrativo impediu a Universidade de manter as bolsas, que devem ter sido redistribuídas para outras instituições que se inscreveram conforme as regras.
De acordo com o resultado do edital, a UESPI não consta entre as instituições selecionadas. Isso comprova que a Universidade perdeu o prazo de inscrição e, como consequência, o acesso as 84 bolsas. A situação é ainda mais alarmante porque o próximo edital, que pode contemplar novas bolsas para a UESPI, só será lançado em 2027, com a implementação prevista para 2028.
Um retrocesso de 20 anos
A UESPI levou mais de 20 anos para alcançar o quantitativo de 84 bolsas de pesquisa. Inicialmente, a Universidade recebia apenas 10 bolsas, e somente ao longo das duas últimas décadas conseguiu ampliar esse número para chegar a 84, um número ainda insuficiente, mas que já representava um amparo significativo, que refletia no desenvolvimento da produção científica e da qualificação dos pesquisadores e da própria instituição, inclusive favorecendo a criação de programas de pós-graduação.
Agora, com a perda das 84 bolsas, a universidade terá que recomeçar do zero junto ao Programa do CNPq, que é umas das principais agências de fomento no Brasil e que vem se tornando indispensável ao desenvolvimento da pesquisa acadêmica. Não há previsão para que a UESPI consiga novamente atingir esse quantitativo de bolsas tão rapidamente, considerando que as demais instituições também competem por esse recurso escasso.
Impacto financeiro e científico
A perda das bolsas não representa apenas um prejuízo para estudantes e docentes que dependiam desse apoio para desenvolver seus projetos de pesquisa e contribuir com a produção de conhecimento e com a avaliação institucional; há impacto negativo para a consolidação dos programas de pós-graduação existentes e para a criação de novos programas. Há também um impacto financeiro significativo para a universidade. Cada bolsa tinha o valor de R$ 700,00 mensais, o que resulta em um montante superior a R$ 2 milhões por ano; ao longo de três anos são 6 milhões a menos no financiamento da Universidade, que padece com a falta de recursos financeiros.
Além disso, a perda desse vínculo com o CNPq compromete as relações de reconhecimento institucional, importantes para o trânsito da produção a nível nacional e internacional.
A redistribuição das bolsas
Com a perda das bolsas do CNPq, a situação dos alunos bolsistas da UESPI se complicou. Os alunos que se inscreveram e foram contemplados para receber bolsas do CNPq agora têm suas bolsas transformadas em bolsas específicas da UESPI ou da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí – FAPEPI. Porém, ainda há estudantes sem bolsas, apesar de terem se submetido ao processo seletivo e logrado aprovação. Mesmo que a Universidade e o Estado cheguem a realizar a cobertura total, não representaria o que se espera no cenário dos investimentos, que é a ampliação, seria apenas uma ação mitigadora da estagnação ou do retrocesso.
Pelo último edital de bolsas da Uespi, os projetos com as maiores notas no processo de avaliação, pelo mérito das propostas, pelo currículo dos(as) docentes e estudantes, deveriam receber as bolsas CNPq. Após a distribuição das bolsas do CNPq, a distribuição seria feita com as bolsas UESPI e, por fim, as bolsas da FAPEPI. No entanto, com a perda das bolsas CNPq, o sistema de distribuição ficou comprometido, e muitos alunos podem, inclusive, ficar sem a bolsa necessária para a continuidade de seus estudos e pesquisas e o cumprimento das expectativas geradas pela atendimento das regras do edital, aplicadas por parâmetros técnico-científico, pela comunidade científica de avaliadores internos e externos.
O silêncio impera na reitora
A ADCESP solictou informações à reitoria sobre a questão das bolsas, mas até o momento, nada foi dito ou explicado. A perda dessas bolsas não pode ser vista como um simples erro burocrático. Ela representa um grave retrocesso para a UESPI e para a pesquisa científica no Piauí. A falta de inscrição dentro do prazo do edital resultou em um impacto negativo profundo para a instituição, que agora deve enfrentar uma longa espera até a possibilidade de recuperar esse quantitativo de bolsas.
Para a ADCESP, o Sindicato dos Docentes da UESPI, essa situação exige uma reflexão séria sobre a gestão da Universidade e a necessidade de maior atenção e compromisso com a área de pesquisa e os parâmetros de promoção da universidade pública. Não queremos acreditar que estamos em face de um projeto que aposta na destruição da universidade pública do Piauí sob a responsabilidade do governo do Estado! A Universidade, que tem se esforçado para qualificar seus docentes e estudantes, não pode continuar perdendo oportunidades tão importantes para o avanço científico e para a formação qualificada de recursos humanos.
A administração superior da UESPI precisa explicar o que aconteceu publicamente e buscar alternativas para que episódios como esse não se repitam e para que a pesquisa científica, um dos pilares do desenvolvimento educacional, acadêmico e social, seja preservada e incentivada na instituição.
Segue em anexo a documentação: